Um dia desses; três garotas, um lago, um ser estranho

15:45

O clima estava mais frio que o normal, muito denso, parado, estático. Algo estranho acontecera naquele dia. Elas não conseguiam mais falar, as palavras não saiam, apenas voavam em suas mentes como em um redemoinho. Olhavam uma para a outra numa comunhão de pensamentos, estavam pensando juntas, com certeza estavam.

Poderia ter sido um dia qualquer, mas não foi.

Cinco horas antes elas se encontraram em frente àquele lago, no mesmo local que costumavam brincar a alguns anos atrás. Mas não eram mais crianças, as pessoas mudam, crescem e perdem o gosto por coisas simples. Elas queriam algo diferente, algo não cotidiano. Já estavam cansadas de livros, filmes, festas e drogas ilícitas.Viram um barco pequeno, não pensaram muito, apenas o colocaram no lago e subiram. Remaram alguns minutos até chegar em um lugar diferente, onde as folhas das árvores eram vinho e a água era cristalina. Peixes estranhamente grandes passavam embaixo do pequeno barco e um cheiro de eucalipto muito forte parecia estar empregnado ali. Passaram alguns minutos hipnotizadas com aquele lugar, como não haviam descoberto ele antes? Eis a resposta: só vemos o que queremos ver, o que está na nossa frente, quando resolvemos enxergar além, ficamos deslumbrados.

Pensaram em descer do barco, mas a do meio advertiu, disse que era perigoso e que era melhor voltar. A menor delas tocou a água, tocou levemente, apenas com as pontinhas dos dedos. A água em resposta, se mexeu sozinha. Era como se tudo alí estivesse vivo. Ouviram barulhos estranhos vindo das árvores, vozes, sons que pareciam vir de uma harpa e alguns passos.

Perceberam que algo as observava, olharam ao redor, uma de costas para a outra, até que viram algo na beira do lago. Era uma criatura de cor azul anil, tinha guelras, nadadeiras, mas estava em pé, andando e falando algo que elas não escutaram, estavam assustadas demais para escutar alguma coisa. Uma delas gritou "REMEM!". O grito foi estridente, quebrou toda a calmaria daquele lugar, a floresta pareceu responder fazendo barulhos estranhos que pareciam galhos se chocando em alta velocidade. A criatura estranha sumiu. Elas se sentiram aliviadas, mas continuaram remando, sentiam que precisavam ir embora dali o mais rápido possível, e nessa hora o barco estacionou. Parecia que tinha ficado preso em algo, uma pedra talvez, mas não tinha nenhuma pedra alí quando elas passaram na ida.

Algo segurava o barco por baixo. Elas se abraçaram, sentiam que não havia mais nada a se fazer. Então uma mão segurou a borda do barco tentando subir, era a mesma criatura estranha que elas teriam visto alguns minutos atrás na beira do lago. Subiu na outra ponta, o barco ficou um pouco desequilibrado.


Aquela criatura estranha deu alguns passos em direção à outra ponta do barco, ela parecia querer algo, ninguém sabia exatamente o que era, sabiam apenas que aquilo que ela queria de fato não estava ali. Talvez a criatura tenha ficado com raiva por não achar o que queria, então segurou uma das garotas pelo pescoço, a do meio. Não parecia querer machuca-la, mas as suas unhas eram afiadas demais e entraram devagar na pele dela como pequenas facas. Gotas de sangue caíram de cada um dos cortes. A garota não gritava, não falava, não parecia estar ali, talvez não estivesse. Os olhos dela viraram, como se estivesse morta, mas parecia continuar de pé. Ele a levou junto quando mergulhou como um peixe de volta ao lago. Formou-se na água uma mancha alaranjada, cor de ferrugem, e depois vermelho sangue, a mancha se espalhava cada vez mais.

Perceberam que não havia mais chances de encontra-la, não naquele momento. Juraram em silêncio que voltariam um dia para busca-la. Foram embora enquanto escutavam vozes que gritavam num vácuo "Eu esperarei!".

Quinze anos depois elas pareciam ter esquecido de tudo o que aconteceu naquele dia. Não entravam mais naquele lago, sabiam que havia algo perigoso ali. Lembravam apenas que a quinze anos atrás uma garota caiu ali, se afogou. Nunca mais voltou.

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2 comentários

  1. Oi, Nayara!
    Que conto! Enquanto lia, fui envolto pelo clima sombrio da história... Um ambiente muito arrepiante, aliás. Por alguns instantes, me senti naquele barco, vendo tudo aquilo acontecer, assistindo impune ao rapto, indo embora ao som da voz sussurrando sua eterna espera...
    E agora quem está esperando sou eu: vai ter continuação?????


    Gostei muito do seu blog, estou seguindo! Quando puder,faz uma visitinha lá no meu, ficaria muito feliz em te receber!

    Abraços,
    Diego.

    pecasdeoito.blogspot.com.br

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  2. Oi!
    caracaaaaaa....eu também nunca mais voltaria nesse lago... hein... rs
    Bjs, Lu

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